Leia se tiver estômago

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Malz aê

Desculpa meu jeito egoísta
E por sempre sumir sem dar pista.
Desculpa se trilho sozinho,
Se sigo o meu próprio caminho.
Desculpa se tua risada
Já não vem com minha piada.
Desculpa meu pragmatismo:
Por ele, mereço ostracismo.
Desculpa por não me entregar,
Por não me faltar mais o ar.
Desculpa pelo teu choro
Quando eu quebrei o decoro.
Desculpa por minha alma ser livre
E não mais suportar qualquer crise.
Desculpa pelo tédio prematuro
E por não me sentir inseguro.

Sei que não mereço perdão
Que sou tolo e sem-coração,
Que tenho o rei na barriga,
Que abro, nos outros, ferida.

Entendo bem qual o meu fatum
Quando acabar o teatro,
Quando for de todo esquecido,
Quando não me restar mais abrigo.

Só quero não ser tua chaga,
Por que a consciência paga,
Por que percas a doçura,
Por que não tenha mais cura.

Não deves se fechar por minha causa,
Cortando, da vida, as asas,
Evitando qualquer abertura,

Apodrecendo a fruta madura.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Quem é vivo, sempre aparece (ou Angústia)

Essa sede que sinto
Que nada acalma.
É verdade, não minto,
Ela assalta a minha alma

Sou cria de uma lei
Que me impele a ser o primeiro.
Influência de vocês,
Todo o tempo, janeiro a janeiro.

Essa raiva contida
No fundo do peito.
Mais uma ferida
É claro, não tenho mais jeito.

Não aceito outro posto
Que não seja estar na frente.
Se não estiver no topo
Se bagunça, a minha mente.

Esse nó na garganta
Que não se desata.
A angústia é tanta
Minha vida ela arrebata.

Já não sei mais o que desejo
E não vejo por que insistir.
Perspectiva não vejo
É melhor terminar por aqui.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Pirata

Pirata dos sonhos,
Cara de pau.
Olhar de gancho,
Riso de mal.

O mal começa aqui
Numa parte de mim
Que não se encerra.
Em minha seleta
Pétrea semente.

Fênix que renasce.
Cheiro de cinzas;
Resto do calor
Entre o medo
E o ódio.

Nasci para o mal,
Não posso negar.
A luz me irrita.
Silencioso ruir
Da alma quieta.

As rugas, cicatrizes
E até as bermudas.
As blusas, camisas,
Perfume das meretrizes.
Irrompe a primavera.

Saco que se enche
Cospe fora o rubor.
Peito que arde
Não demonstra
Nem exige
Teu valor!

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Defenestre teu achismo

Por que me queres verme?
Afundado sempre na merda,
De uma cagada, o cerne,
A lamentar minha perda.

Por que não me acreditas
Que estou a sentir bem,
Pois tenho o cobre das biritas
E não dependo mais de niguém?

Por que as numerosas críticas
Sobre deitar-me com quem posso?
Se são questões biológicas
De instinto, que sabes, é nosso.

Acaso acreditas mesmo
Que estou a viver de mentira,
Que levo meus dias a esmo,
Que falseio ao tocar minha lira?

Pois saibas que vivo meu sonho,
Levo tudo como quero e quis.
E apesar de ser medonho,
Talvez eu esteja feliz.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Pá de cal

"Toda flor que nasce
Nasce sem nome sem nada
Sem título algum
Nasce desemparada"

Entra na minha vida de zoeira.
Faz-me acreditar que posso.
Encanta-me com tua maneira.
Torna o que era meu, nosso.

Mostra-me que posso ser leve
E que não preciso estar armado.
Faz meu querer, ainda breve,
Ser, em minutos, despedaçado.

Sei que era só o princípio,
Que tudo tem um fim
Mesmo querendo que não.

Agora voltei a ser ímpio,
Pena que acabou assim.
Joga uma pá de cal no meu coração.

domingo, 29 de março de 2015

O Voddoo Defeituoso

Era uma manhã difícil quando a vi.
Nascia um desejo mútuo, bem ali.
As pernas cruzadas, e eu não previ,
Que a encruzilhada estava por vir.

Até que um dia ela me encontrou
E levou com ela o meu voddoo.
Foram dias difíceis de entender
É complicado até pra descrever!

Ela era a barbie e eu era o ken,
Sabia o que fazia muito bem.
Até que um dia ela se cansou
E felizmente ela me deixou!

Mas ela queria o meu pescoço
E continuou torturando até o osso.
Mas o ken não voltaria pra barbie
E ela não entendia a tal barbárie.

Apesar de não adiantar de nada,
Me fazia beber água de privada.
Até que um dia me libertou,
Jogou no lixo, o meu voddoo.

terça-feira, 17 de março de 2015

36

Tem sangue no meu cabresto
E tento, mas não consigo tirá-lo.
Tento dormir, mas não esqueço
O sangue do meu cabresto.
Faço força, tento com álcool
E com cinzas eu enlouqueço.
Acordo e volto ao começo
Torturado com sangue do cabresto.

Eu ouço vozes que me avisam
Que tem sangue no meu cabresto.
Eu sangro, e volto ao começo.
Interrompo meu coito assustado,
É o telefone que toca ao meu lado,
Que lembra, tem sangue no cabresto.
E aquela voz prepotente insinua
Pra que eu volte ao começo,
Aí que eu me enfureço
Com o sangue do meu cabresto.
Eu tento não ligar, me apresso
Pois tem o sangue do meu cabresto.

E as decisões não são minhas,
Tem o sangue do  meu cabresto.
A ira acumula na minha cabeça,
Maldito sangue do meu cabresto.
E eu raspo com força, não sai
O sangue do meu cabresto.

Tem o sangue do meu começo
E o cabresto do recomeço.
Eu piro e me viro do avesso
Mas não posso fugir do cabresto.
Preciso descobrir qual é o preço
Pra liberdade deste cabresto.
Sentado e emburrado
Por nada eu me interesso.
 ...
TEM O SANGUE DO MEU CABRESTO!


domingo, 15 de março de 2015

De volta ao guard rail

A lua se esconde
Atrás da chuva fina.
E essa luz que ofusca
Que cega, dói na retina.

Nos momentos difíceis
Que não tenho anseios
Eu volto outra vez
Pra pensar ao guard rail.

Bolso vazio, o banco é frio,
A mente está perturbada,
Eu não tenho dinheiro,
Não tenho mais nada.

Estou aposto ao guard rail
Olhando todas essas luas,
Esperando o toque delicado
O frio mortal das ruas.

Atrás do guard rail
Não tenho o que falar!
O estrondo dos trovões                                                            
Parecem me chamar!

E quando o dia amanhece,
Não, eu não pulei você!
Estou bem, gosto estranho,
Era só um desejo mundano.

segunda-feira, 9 de março de 2015

À primeira vista

Vou me sentar do seu lado
E você pode ir falando.
Não quero saber seu passado,
Nem conhecer o seu bando

Aproveita que tá sozinha
E me diz o que quer fazer.
A próxima pinga é minha,
Mas eu divido com você.

Prova dessa cerveja,
Eu acho ela gostosa.
Não é muito o que deseja,
Mas vai lhe deixar fogosa.

Se você tá com fome
pega, então, uma porção.
Mas que a noite termine
Com sua calcinha no chão.

Vou pagar logo a conta,
Vamos pra outro canto.
Anda logo, se levanta,
Antes que perca o encanto.

Toma esse chiclete velho.
Tá sem gosto, mas masca.
E não cria muito empecilho,
E libera logo a xavasca.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Bem-querer

"Às vezes é a rola pequena que faz gozar"
(Renato 'Rato')


Você conseguiu.
Depois de tanto tempo,
De me preencher o vazio,
Virou um tormento.

Você se esforçou.
Fez suas cenas,
Acabou com o amor
E hoje lhe nutro pena.

Inoculou o seu veneno,
Só que errou na dose,
E matou o que sentia por você.

Hoje estou pleno,
Não me amedronto com um porre,
Você matou meu bem-querer.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Cárcere D'alma

Onde o cárcere é o corpo
A morte é como uma flor
Hipnotizante tuas cores
Encantada com seu odor
Uma faca na mão pra trás
E espera com amor

Onde a alma está aos berros
O suicídio é seu senhor
Com serenidade de justos
E as vozes que dão pavor
Um beijo doce de láudano
Pra encerrar a dor

A noite implorando o dia
E a cabeça neste fragor
No copo não há veneno
Nem tão perto para se por
Mas pode afiar a faca
E debelar onde for

Ela aponta a normalidade
A quem desconhece o sabor
Quem o normal não encaixa
E só consegue se opor
Triste e cruel fatalidade
O outro ser melhor!