Leia se tiver estômago

sábado, 29 de novembro de 2014

Não é que eu não tenha medo...

Eu só não me importo
Porque eu já estou morto,
Condenado a este inferno
Sombrio do esquecimento;

Eu choro diante do espelho,
Escondo as lágrimas num copo.
Depressa, eu não as quero!
Fortuito, nem sequer fortuito.

Caminho com olhar medonho
Procurando lembrança num olho
Que vem de frente comigo.
Amigo, amigo? ou inimigo?

Não sei, não sou eu que escolho.
O meu passado é muito rico,
Tão valioso quanto de outro.
Ouro, tesouro de tolo!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Meia história

Vou contar-lhes uma história
De um homem não tão bom
Que representava a escória
Mas tinha um grande coração

Encostado ao balcão,
Me pedia uma bebida
"Me dê algo amargo"
Servia lhe jurubeba
"Isso é amargo?"
"Não viveste a vida?"

E seu apelido é Jámorreu
Seu nome é Faztempo
Viverá muito mais que eu
Até terminar seu sofrimento

Parou de beber um tempo
Por um câncer na garganta
E pra iniciar o tratamento
Tirou dentes da mandíbula
Ficou com hálito fedorento
Mas não perdeu a esperança

Ele tinha uma bicicleta
Que ele a carregava
Quando precisava dela
Era aí que o pneu furava

Jámorreu é um exemplo
De um homem persistente
Nunca deixou de viver
Mesmo muito doente
Voltou a fumar e a beber
E sorrir sem nenhum dente

Seu companheiro é o breu
Está sempre no puteiro
Viverá muito mais que eu
Até comer o mundo inteiro!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Afetuosamente canalha

Já não tenho esquinas
Onde eu possa ficar,
Pois por todas as meninas
Insisto em me afogar.

Já não tenho mais critérios
Não discerno bom ou ruim.
Sei que todas têm mistérios
Nos quais me perco de mim.

Se é a pinta ou o nariz,
Se tem marca de nascença
Ou se notória é a cicatriz
Já desvirtua minha cabeça.

Pois todas elas eu amo,
E por todas elas eu bebo,
Por todas elas eu clamo
Por todas perco o sossego.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Procura-se amigos mudos

Procura-se amigos mudos
Que não vejam defeitos
Nem ouçam asneiras

Procura-se amigos mudos
Pra não velejar em sonhos
Nem surfar em esteiras

Procura-se amigos mudos
Que não sejam estreitos
E nem percam as beiras

Procura-se amigos mudos
Que não digam o que pensam
De nenhuma maneira

Procura-se amigos mudos
Que não ébrio estejam
Pra não beber cachoeiras

Procura-se amigos mudos
Não pra meses, ou anos
Mas pra uma vida inteira

E diante da tristeza
Mudos e turvos
Aconselhadora beleza

Hão de agradar! 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Fuck the rain!

"Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar"


Enfia essa estaca
No meu coração
Deixa tua marca
Na minha depressão

Joga o cabelo
Pra me enforcar
Afaga o joelho
Me tira do lugar

Me provoca
Pra me deprimir
Me olha
Pra eu sair daqui

Arruma o vestido
E se diverte
Me coloca em perigo
E me inverte

Enfia essa estaca
No meu coração
Deixa tua marca
Na minha depressão

Traga só de zoar
com um puta charme
Pra acarinhar
Meu coração com arame

Faz-me pueril
Faz-me gaguejar o aceno
Faz-me suar frio
Faz-me sentir pequeno

Enfia essa estaca
No meu coração
Deixa tua marca
Na minha depressão

Me humilha
Só de sacanagem
Minha filha,
Não perdi a coragem

Me esnoba
Ignora minha existência
Não se afoba
que eu tenho paciência

Me banha quando não posso
Me seca quando sedento
E quando já não gosto
Ainda assim me lamento.