Leia se tiver estômago

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Meu lugar no mundo

 O meu lugar/ É sorriso, é paz e prazer / O seu nome é doce dizer...


Em seus degraus de concreto
Aprendi a ser leal,
Tornei-me um homem completo
Tendo encontrado 
A vida real.
Foi vendo fintas e dribles
Que eu virei 
O que sou agora.
Então doeu pra caralho 
Quando eu tive
De ir embora
Oh, Pacaembu,
Você é
O meu lugar no mundo!
Oh, Pacaembu,
Eu não te esqueço
Nem por um segundo!
Lá na praça Charles Miller
Mais um protesto, 
Mais uma gelada.
Meu Coringão campeão,
Outra partida 
Estava encerrada.
Uma amizade sincera,
Um irmão 
Pro resto da vida.
Deve ser por isso que pesa
Sempre que penso
Naquela despedida.
Oh, Pacaembu,
Você é
O meu lugar no mundo!
Oh, Pacaembu,
Eu não te esqueço
Nem por um segundo!
E todo mês de janeiro
Passo torcendo
Com muita vontade
Pela final da Copinha
Pra diminuir
Um pouco da saudade.
Hoje só restam lembranças
Da juventude
E do que passou.
Então deixo nesses versos
O meu coração
E todo meu amor.
Oh, Pacaembu,
Você é
O meu lugar no mundo!
Oh, Pacaembu,
Eu não te esqueço
Nem por um segundo!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Volta, Saturno

"O sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão"



Nessa idade, ora veja,
Que o praneta me retorna
Eu mais calmo e confortável
Como imerso em água morna

Encaro da vida um novo ardil
Visando ao meu novo fracasso
Com um sentimento pueril
Para que intente ao erro crasso

Logo eu que já conheço
Essas artimanhas todas
E de quem se estabelecem
As tão improváveis bodas

Vi-me pego na arapuca
De paixão e rebeldia
Mas estou aqui ileso
Livre dessa armadilha

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A primeira saída

Já fazia muito tempo
Dando seta pra esquerda
Nem sabia mais direito
O que era ganho, o que era perda

Então cheguei a emparelhar
E até que botei fé
Que ela ia acelerar
Afundar, baixar o pé

Mas notei a reduzida
Talvez no freio pisou
Diminuindo a velocidade


Eu peguei a primeira saída
Roncou mais forte o motor
Em busca de intensidade

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Sobre o autoengano

Ah, que saudades que tenho
De quem um dia eu amei
Mesmo eu hoje sabendo
Que nunca houve, inventei

Sinto falta da companhia
Que nunca existiu de fato
Recordo daquelas manias
E de como me custava o hiato

Mas o que sempre me mata
É lembrar daquele sorriso
E da alcunha de divindade

Pois sei que sonhar não me basta
E, bem, pra ser mais preciso
Ela nunca foi de verdade

terça-feira, 31 de julho de 2018

Sobre as oportunidades perdidas

Queria o meu peito em chamas
Toda vez que pensasse em você
Assim como ficaram nossas camas
Mas só consegui te perder

Não me pude entregar
Pois não merece pedaços
Ou apenas parcelas
Deste horrível palhaço

Merece muito mais que isso
A plenitude em si
Não esse ser-enguiço
Como de fato nasci

Assim pleiteio perdão
E como sei que nunca vai ler
Abro o meu coração:
Eu já amei você

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Um conto beat de Tonho da Lua

“Não é a Rutinha…”

Conheci Rutinha no bar. Gostava daquele em específico. Frequentavam lá os que tinha como amigos à época. Depois vieram a se provar colegas de bar, no máximo, mas o que mais iria querer aquele pedaço de merda que eu era? Nada me fazia sentir que estava vivo naquela época maldita. Havia queimado meus sonhos e deixado o que sobrou deles junto com as bitucas nos cinzeiros fedidos da vida. Mas vamos falar de Rutinha.
Ela nem era minha primeira opção naquele dia. A que o era me deixou esperando uns dias depois (hahaha). Olhei pros olhos de cabrito de Rutinha uma meia-dúzia de vezes, daqueles olhos que não passam nada além de insanidade. Também não são minha primeira opção, mas tudo bem.
Não vi mais Rutinha por um mês senão pela internet. É incrível como podemos platonizar tanto em dois meses; ainda mais alguém que passava 80% do dia em frente da tela como eu.
Nos falamos pela primeira vez em outro bar, com o mesmo espectro de pessoas em volta. Ela já me menosprezou na primeira frase. Eu devia ter seguido meu instinto e mandado ir se foder. Era o certo. Era o que eu faria em situações como aquela. Mas foi a primeira de muitas vezes que me neguei pra tentar uma vida. Hoje isso não se repetiria.
Daí em diante foi uma diarreia de emoções. Nos falávamos todos os dias, começamos a ficar, ela me contou que um amigo (daquele grupelho, o que mais tinha apreço) era apaixonado por ela, arrumei emprego, a camisinha estourou, após três tentativas aconteceu o aborto, sofri um acidente, o Corinthians ganhou a Libertadores e começamos a namorar.
Nosso início de namoro se deu em mais uma situação de negação do meu eu. Quando começamos a nos envolver, pedi exclusividade, ela topou. Ela quebrou esse acordo e em vez de deixar tudo pra lá, eu a pedi em namoro trucando 12: “ou namora, ou não me vê mais”. Ela aceitou (infelizmente).
Rolou, então, um festival de mostrar poder, da parte dela, e de baixar a cabeça, da minha. Ela ainda deve dizer por aí que arrumei emprego, parei de fumar, emagreci e mais um monte de coisas por ela. Deve se pintar como redentora na minha vida. E deve ser por isso que ela não entende como eu posso viver sem ela. Mas chegaremos lá.
Acho que foi quando conheci o primeiro anjo com quem tive contato nessa vida que decidi começar a viver de verdade. Ela tinha AQUELE brilho nos olhos.
Foi ela quem me abriu os olhos para Rutinha. Não que eu falasse dessa pessoa pra ela, aliás, eu esquecia de Rutinha. Rutinha se fazia mostrar superior a mim sempre que possível. “A gente só namora porque EU quero”. Está certo que para isso precisam as duas pessoas quererem, mas qual a necessidade de afirmar a
cada meia-hora? Essa anja me tratava como igual e se interessava pelo que eu dizia. Uma noite eu sonhei com ela. Acordei decidido a terminar com Rutinha e me declarar. Ela (anja) anunciou que encontrou um carinha de quem gostava.
Comecei a não aceitar tanto ser tratado como um cão por Rutinha. Comecei a não aceitar os programas reacionários que passavam em sua TV. Comecei a não aceitar quando ela falava da vestimenta alheia, invertendo tudo pra ela. Comecei a não aceitar o modo rude como ela tratava a família. E me emputecia de verdade a cada “humilhadinha” que ela me dava.
Conheci então o segundo anjo. Esse um arcanjo caído, desses que comem torresmo peludo de ontem e ovo colorido no bar do Zé com cerveja de procedência duvidosa.
Eu estava no auge do meu descontentamento com Rutinha. O que me mantinha com ela eram as discussões políticas com o cunhado, os gatinhos recém- adotados, o modo igualitário como sua família me tratava e só. Comentei com o arcanjo sobre uma conhecida em comum e o modo como ela me atraía, pois ele arrotou de supetão: “se você está pensando em outra, não seria melhor terminar?”.
Num primeiro momento achei uma ideia insana, num segundo, tentadora. Por fim, aceitei como correta, por mim e por Rutinha. Tentei uma vez, ela tentou outra. Na terceira terminamos.
Foi uma libertação na época. Não só dos abusos de Rutinha, mas das amarras que eu mesmo havia colocado em mim. Estava pronto para viver, para ser livre, para fazer o que eu bem quisesse.
Voltei para minhas músicas desqualificadas para pessoas desqualificadas em bares desqualificados. Conheci meninas gente boa demais (nesse ponto, não sei se realmente o são ou se é o efeito rebote de ter estado com uma pessoa que me fazia mal. Mas hoje penso com muito carinho nelas e torço por elas mesmo bem afastado).
Fundei e afundei uma banda, fundei outra e hoje ela é uma das maiores alegrias que eu tenho.
“Não é Rutinha…”
Apesar do fim, eu nutria certa síndrome de Estocolmo por Rutinha. Desejava-lhe o bem e até direcionei amigos para conversar, no sentido de ajudá-la com o término.
Acontece que eu estava conhecendo pessoas, e deixei claro isso pra ela, numa tentativa de fazê-la se afastar. Contudo, ela queria se fazer presente na minha vida.
Aconteceu, em certa tarde, de eu estar em um bar. Nesse bar, trabalhava certa garçonete. Essa garçonete é UM PITEL de pessoa: livre, independente, madura, linda… e acabamos ficando (mas não na tarde em questão). Nessa tarde eu
sabia que Rutinha iria ao bar e declarei “baby, hoje minha ex vem. Eu tenho esse acordo idiota...”. Ela me entendeu. Mas Rutinha, não. Rutinha viu coisas que não aconteceram e eu me recordei do motivo do término.
Não aceitaria mais ser subjulgado, não mais. Agora era meu tempo, eu era um Goonie no subterrâneo. Claro que nunca teria explicado a Rutinha isso, e o papo acabou com um “Faz o que quiser da sua vida. Não me dirija mais a porra da palavra”.
Desde então Rutinha passou a parecer uma gêmea do mal. Pretensamente se engajou em lutas igualitárias. Não que isso seja ruim, mas nos tempos em que vivemos todos o fazem. E fazem sem base nenhuma, achando que subcelebridades “lacradoras” são alguma espécie de referência de luta.
Eu desfiz meu namoro, Rutinha desfez duas amizades que antes considerava inabaláveis. Confiaria a vida àquelas filhas da puta, mas descobri que elas nunca me entenderam como achei que entendiam. Uma pena pelo tempo e atenção perdidos com quem não merece.
Rutinha ficou amiga de uma ex minha. Mas essa é outra história que os anos de álcool corroeram. Só a citei pelo simples fato de ter havido diálogos pós-Rutinha nos quais ela se desentendeu comigo e nos quais ela se desculpou pelo desentendimento; Rutinha só sabe dos primeiros, ou finge.
Meses de libertinagem pós-Rutinha, já tinha botado a cabeça no lugar, já tinha fundado uma banda, já tinha tido problemas de saúde, já tinha fechado semanas fechando bares, era a hora de dar uma sossegada pra variar. Encontrei uma garota com quem o papo nunca acabava, e isso é o essencial fora os outros elementos.
Rutinha passou a falar merda dela por aí, sabe-se lá por quê. Sabe-se lá por que concluiu que tanto essa garota quanto o Tonho da Lua aqui vivemos em função dela.
Hoje Rutinha tem tantas acusações contra mim que eu já perdi a conta. Acho que o fato de eu nunca ter ligado deve mexer com ela.
Entrei com medidas judiciais? Claro. Hoje em dia, todos somos expostos e nunca se sabe quem vai ter qual entendimento. Só queria que isso parasse.
Rutinha me forçou a me afastar de lugares e pessoas por causa dessas acusações. Acho que foi o maior acerto da vida dela, e é a única coisa por que sou grato.
Hoje estou no meu 13º ano de cárcere, pois Rutinha conseguiu finalmente me incriminar plantando provas. A cada dia de visita, tenho que negar aos guardas da prisão a permissão para Rutinha me ver. Ela conseguiu o que queria.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Caiu do Caminhão

O que é que faço agora
Se no meio do caminho
Tombou o caminhão
Com meu estoque de carinho?

Deixo que saqueiem a carga
Que já não tem serventia
Nessa vida moderna,
Nessa vida vazia?

Ou freto um PROTEGE
E guardo bem seguro
No cofre mais fundo
Atrás do mais alto muro?

Só queria, a princípio,
Evitar desperdício,
Pois é o que sobrou

Dos anos amargos,
Dos maços, dos tragos,
De todo meu amor.